continuidade

O começo da construção de um sucessor do governo Pozzobom

Marcelo Martins e Maurício Araujo

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Anselmo Cunha (Diário/Arquivo)

O perfil calmo e polido é quase uma antítese do que é o prefeito Pozzobom, o vice-prefeito Rodrigo Decimo (PSL), um novato na política, que não teve um tempo mínimo sequer para se ambientar à chamada coisa pública. Já na largada deste segundo mandato, coube ao empresário coordenar, junto ao chefe do Executivo, a tão prometida reforma administrativa.

- Tivemos que organizar um sistema que contemplasse o plano de governo proposto, as iniciativas que já estavam em andamento e as novas ideias que surgem no decorrer. Mas acreditamos neste formato - pontua Decimo.

A promessa da prefeitura em dar fim à burocracia e ganhar tempo

Os nomes de confiança de Pozzobom e os herdeiros de outros governos

A super secretaria e a missão, quase impossível, de desburocratizar

A experiência bem-sucedida na iniciativa privada agora estará totalmente voltada à prefeitura. Além das funções próprias e inerentes ao cargo, também, de forma tímida e até restrita, recai a ele uma possível continuidade da administração, mirando já em 2024.

Para efetivar as propostas da gestão, que passam por diminuir o engessamento da máquina e imprimir um ritmo célere e menos burocrático, Decimo foi alçado como a aposta do governo. A ele ficará a responsabilidade de gerenciar a prefeitura e fazer articulação com diferentes setores, dos quais tem trânsito. Se concluir com sucesso as propostas, torna-se naturalmente um possível sucessor de Pozzobom. Mesmo que o assunto, assegura o vice-prefeito, ainda não seja tratado de forma aberta, não está descartada a possibilidade.

Sem dizer que, dentro da prefeitura, ainda que de forma muito reservada, não causaria nenhum estranhamento, se Pozzobom, em 2022, deixar a prefeitura para concorrer a deputado federal.

ESTREIA

Pela primeira vez, Decimo tem um cargo político, já que foi eleito vice-prefeito. Mas o trabalho no meio começou muito antes. Enquanto presidente da Cacism, o empresário articulou a participação da entidade em projetos importantes, como o Poupa Tempo e a viabilização de projetos para a conclusão da Perimetral Dom Ivo Lorscheiter.

Também liderou junto a outras associações a pressão ao governo do Estado para a duplicação da BR-287. Estas e outras iniciativas foram como um despertar para o mundo político.

CIRCUNSTÂNCIA

Filiado ao PSL na data-limite, é aguardado em breve o desembarque de Decimo do partido e a ida dele para o PSDB. O PSL foi meramente uma questão de circunstância. Até porque o partido garantiu à coligação Pozzobom/Decimo mais tempo de rádio e TV, e, claro, valores do fundo partidário.

Prova que o PSL, pouco ou nada representa hoje, é que o único vereador da sigla é oposição à gestão municipal. Ponderado, Decimo já mostra uma fala mais política - quando questionado por questões mais espinhosas - e tergiversa quando o tema é a sucessão à prefeitura:

- Tenho um compromisso por quatro anos. Nem sequer pensei sobre uma possível continuidade. Mas, aprendi a nunca dizer nunca.

"MADRUGADOR"

Se nos primeiros meses de governo, o vice-prefeito, que também é empresário do ramo da construção civil, ia nas duas empresas dele às 5h para bater expediente, às 8h no Executivo, isso já não é mais possível. A prefeitura, confessa Rodrigo Decimo, ocupa a maior parte do dia, e as empresas agora são tocadas pelo sócio, com a sua supervisão geral. As idas à empresa, agora, limitam-se aos finais de semana. 

Natural de Uruguaiana, Decimo é casado e tem um casal de filhos. Veio para Santa Maria aos 15 anos. Formado em Engenharia Civil pela UFSM, tem MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas. Além de ter sido presidente da Cacism por duas vezes, também presidiu o Sindicato da Construção Civil de Santa Maria (Sinduscon). Quanto à família, reservado como é do próprio perfil, sempre recorda, não em tom de lamúria, mas, sim, de cansaço, que a esposa e os filhos já haviam dito para ele: "não vai para a política". Decimo, que aprendeu a nunca dizer nunca, se vê agora em meio a um ambiente em que, até mesmo para a família, a resposta pode mudar. Se alguém disser que há, dentro do governo Pozzobom, um secretário com superpoderes, ou, ainda, com tamanha interferência dentro dos rumos da municipalidade, não seria exagero algum. Até porque há, de fato, um nome com tal estatura dentro da administração do prefeito Jorge Pozzobom: Ramiro Guimarães.

O SUPERSECRETÁRIO QUE COLECIONA DISSABORES

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Pedro Piegas (Diário/Arquivo)

O jornalista, formado pela UFSM, é, de longa data, o homem de confiança de Pozzobom. Se a reputação precede quem realmente a pessoa é, como diz o ditado popular, Ramiro é uma figura controversa dentro do paço municipal. A proximidade dele com Pozzobom veio ainda em 2012, quando, à época, o profissional da comunicação foi o responsável pela primeira campanha de Pozzobom na corrida eleitoral à prefeitura, quando acabou em terceiro lugar. Porém, o trabalho técnico, marcado pela entrega e confiança que ele imprimiu em Pozzobom, rendeu a Ramiro um convite para atuar na bancada do PSDB na Assembleia Legislativa gaúcha. Porém, ele declinou da oportunidade.

O jornalista, que já havia atuado na redação do Diário, foi novamente acionado por Pozzobom. Desta vez, em 2016, ele conduziria a comunicação da campanha vitoriosa do tucano. A partir dali, teria início um caminho em que Ramiro deixaria marcas próprias dentro do centro administrativo municipal: de profissionalização da comunicação institucional e, ainda, de um gigantismo da própria figura dentro do governo.

Detentor já de um status de secretário na gestão Pozzobom, Ramiro foi, desde o primeiro dia útil do mandato de estreia do tucano (em 2017), a voz a enquadrar secretários, e a imprimir um ritmo de cobrança e de entrega que, muitas vezes, só se via isso vindo do prefeito. O protagonismo dele, em pouco tempo, rendeu dissabores e o fez colecionar rótulos de "protegido" e de "cão de guarda" de Pozzobom. Nada que chegue a incomodá-lo, bem pelo contrário.

Com a oratória bem alinhada, de quem carrega consigo um ideal, que ele diz ser "de governo e de buscar o melhor por Santa Maria", Ramiro reconhece que é passional. E, também, visceral. E, sem hesitar, vai para o ataque, sempre que necessário, seja na vida real ou nas redes sociais:

- Tenho, desde sempre, o respaldo do governo. Não se trata de empáfia ou arrogância. Mas sou movido pela entrega. Eu cobro entrega de todos que estão dentro do governo, e pouco me importa quem sejam essas pessoas, sabe. Se for secretário, eu cobro. Se for CC (cargo em comissão), muito mais. Eu tenho o respaldo, desde sempre do governo, até mesmo para brigar.

Além do desafio à frente da Secretaria de Comunicação, Ramiro, que é casado, tem uma outra entrega, a perseguir e a cumprir a partir deste ano, a da paternidade. Ele será pai do Joaquim.

DEFESA

Alçado à condição de secretário de Comunicação, para este segundo mandato, Ramiro fala com ogulho do legado que ele construiu, sempre ao repetir ter o apoio de Pozzobom e de Cortez, na comunicação institucional. Sobre isso, a Secom tem, ao todo, 18 profissionais. Deste total, 15 cargos em comissão (CCs) - sendo dois deles filiados ao PSDB - e mais três funcionários concursados. Dentro do quadro da pasta, ele lista que há jornalistas, publicitários, designers, relações públicas, fotógrafos e cinegrafista. Ou seja, um quadro técnico e que sabe do papel preponderante da comunicação e da necessidade de transparência.

- Com o respaldo político, erguemos uma redoma de profissionalismo dentro da comunicação. Não se vê, aqui, como no passado, o loteamento de CCs ligados a outros veículos de comunicação. Quem olha para dentro da comunicação, sabe que temos profissionais técnicos e isentos. Não fazemos jornalismo panfletário. Temos compromisso com a informação e em abastecer e subsidiar os meios de comunicação da cidade.

Ao lado dele, fechando o chamado núcleo de tomada de decisões da Secom, estão as jornalistas Thaise Moreira, que é adjunta da pasta, e Manuela Vasconcellos, superintendente de comunicação. Ramiro e Thaise "colados" ao secretariado e às demandas mais nevrálgicas. E caberá a Manuela orquestrar a operacionalização da produção de conteúdo da Secom, bem como a relação da pasta com os meios de comunicação.

A ASCENSÃO DE GUILHERME CORTEZ

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Renan Mattos (Diário)

Nos últimos 10 anos, Jorge Pozzobom tem um fiel escudeiro e braço direito na sua trajetória política: Guilherme Cortez. Foi, contudo, no primeiro mandato do tucano, a partir de 2017, que o jovem de apenas 24 anos surpreendeu a praticamente todos da gestão com o papel que viria a ter no paço municipal. Em pouco tempo, a pouca idade, que se refletia em inexperiência política e pouco entendimento da própria máquina pública, davam o tom das conversas pela "rádio corredor" da prefeitura.

- Quem é esse piá, que acha que tudo pode? - era a frase repetida quase que à exaustão por boa parte de "medalhões" de partidos e do próprio governo.

O que alguns não entendiam, ou não conseguiam ver, era que Cortez tinha, nada mais nada menos, que o respaldo e a total confiança do prefeito Pozzobom. Se alguém achava que ele não prosperaria dentro do Executivo, o acadêmico de Direito da Fadisma começou a dissecar o funcionamento da máquina. Desta forma, foi assimilando conhecimento técnico acerca das legislações federal, estadual e municipal. A busca por entrega e pelo domínio dos meandros da engrenagem do establishment levaram Pozzobom a confiar a ele passagens pelas pastas das Finanças, Gestão e Modernização Administrativa, e, depois, o comando da Casa Civil. Nesta última, Cortez virou o algoz de boa parte da prefeitura e foi acusado de promover uma "caça às bruxas" aos progressistas ligados ao então vice-prefeito Sergio Cechin.

Se, no mandato anterior, o destaque foi político, agora, ele assume o maior desafio profissional de sua recente e iniciante experiência profissional na área do Direito: ser o procurador-jurídico da prefeitura e "chefiar" mais 10 procuradores concursados. Comparativos com as antecessoras, como Anny Desconzi e Rossana Boeira, não o preocupam. Sem se deixar medir pela régua alheia, Cortez, hoje com 28 anos, afirma estar pronto para o desafio:

- Quero ser julgado pelo meu trabalho, e não pela minha idade.

PROXIMIDADE E A CONFIANÇA DE POZZOBOM

Se a trajetória, hoje, aponta para uma ascensão meteórica, o começo foi modesto. Ele entrou na atividade política em 2010, aos 18 anos, quando trabalhou na campanha de Pozzobom para deputado estadual. Foi um dos chefes de gabinete mais novos da Assembleia Legislativa. Solteiro e sem filhos, Cortez fez especialização em Direito Administrativo. Pragmático, o que o leva, eventualmente, a ser programático - ao fixar metas e entregas aos subordinados -, gosta de ver as coisas acontecerem. Se na Casa Civil, no passado, colecionou inimizades ao dizer "não" a quase todo mundo, ele afirma que manterá a essência, mas se diz hoje mais maduro e ponderado.

DECISÕES COMPARTILHADAS

Saído da costela de Pozzobom, Cortez, que é filiado ao PSDB, é centralizador e confia em poucos. Neste círculo, estão inseridos o vice-prefeito Rodrigo Decimo e o secretário de Comunicação, Ramiro Guimarães. Esse era um desejo de Cortez: ter mais pessoas de confiança envolvidas nos rumos da administração. Porém, ao que tudo indica, esse núcleo já está com as vagas todas preenchidas. Neste caso, por cargos em comissão (CCs).

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